sexta-feira, 24 de outubro de 2008

ONU busca minimizar impacto da crise em países pobres

Da EFE

Joaquín Utset.


Nações Unidas, 23 out (EFE).- A ONU busca evitar que os países em desenvolvimento sejam ainda mais prejudicados pela crise financeira global, que colocou as economias mais ricas do planeta à beira da recessão e pôs em perigo a ajuda ao progresso das nações mais pobres.


O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou repetidamente nas últimas semanas seu temor de que os países mais pobres e dependentes da assistência internacional para seu desenvolvimento, sejam as vítimas das graves dificuldades atravessadas pela economia global.


Nesse sentido, Ban se reuniu hoje com um grupo de economistas renomados com quem discutiu, ao longo de uma hora e meia, as perspectivas enfrentadas pela economia mundial e a forma que a crise financeira afetará as nações emergentes.


O encontro contou com a participação do professor da Universidade de Colúmbia e Prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, e do especialista do centro de administração pública Kennedy da Universidade de Harvard, Dani Rodrick.


A porta-voz da ONU, Michele Montas, frisou que os presentes "intercambiaram pontos de vista" sobre o financiamento do desenvolvimento, do sistema financeiro global, assim como "o papel regulador que deve ser desempenhado por instituições financeiras multilaterais e a possível reforma" das mesmas.


Ban aproveitou o ato realizado na ONU, em Nova York, por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, para voltar a chamar a atenção dos países mais ricos.


"Os Governos devem ter certeza que a crise financeira não prejudicará seu compromisso de proporcionar mais ajuda e outros recursos financeiros para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)" em 2015, recalcou.


O secretário-geral lembrou que na conferência internacional sobre o financiamento do desenvolvimento, que acontece em novembro em Doha, no Catar, têm "a oportunidade, de verdade, de marcar a diferença" para reduzir a fome no mundo.


O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton advertiu hoje, no mesmo ato, que a atual crise financeira "não pode ser uma desculpa" para que os países mais desenvolvidos se esqueçam de seu compromisso de ajudar os cidadãos mais pobres do mundo.


"É muito importante que os países ricos, as pessoas ricas e as grandes empresas, por mais que sofram com a crise, não a utilizem como desculpa para se esquecer de outros assuntos", disse o ex-presidente em discurso no Conselho Econômico e Social da ONU.


Espera-se que Ban transfira sua preocupação aos presentes na cúpula de 14 e 15 de novembro, convocada em Washington pelo presidente americano, George W. Bush, na qual participarão os membros do G20, que é integrado por países desenvolvidos e emergentes.


A decisão de convocar apenas o G20 não foi muito bem recebida em alguns círculos diplomáticos, que consideram pouco democrático que a receita para resolver um problema global seja adotada por um grupo reduzido de países.


Assim ressaltou hoje o presidente da Assembléia Geral, o nicaragüense Miguel D'Decoto, através do porta-voz Enrique Yeves.


"O presidente da Assembléia me pediu que dissesse isso de uma maneira contundente: Ele acha que as soluções e o diálogo não devem acontecer somente no G8 (grupo que reúne os sete países mais desenvolvidos e a Rússia), ou no G20, (...) mas no G-192, que é a Assembléia Geral da ONU", apontou Yeves.


D'Decoto convocou uma reunião de alto nível sobre a crise para o próximo dia 30 de novembro e nomeou um grupo de especialistas para preparar o encontro, que será liderado por Stiglitz.
As conseqüências da crise também dominarão o encontro que na sexta-feira, em Nova York, o secretário-geral terá com os responsáveis das agências e programas que formam o sistema das Nações Unidas.


O administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Kemal Dervis, já expressou na quarta-feira temor de que as pressões orçamentárias nos países ricos gerem cortes na ajuda oficial.


"Não vimos cortes ou atraso de programas, mas ainda é cedo e nos preocupa", admitiu. EFE

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