terça-feira, 18 de novembro de 2008

Chefe militar da República Democrática do Congo cai após derrotas

Tropas federais tiveram três meses de perdas para rebeldes tutsis no leste.
Situação humanitária deteriora-se no país africano, dizem Nações Unidas.

O presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, substituiu o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, após quase três meses de derrotas das tropas governamentais frente aos rebeldes tutsis no leste do país, informou nesta terça-feira (18) a TV oficial.

Didier Etumba foi nomeado tenente-general e substitui Dieudonne Kayembe na chefia das Forças Armadas, no momento em que a guerrilha do Congresso Nacional para a defesa do Povo (CNDP), liderada por Laurent Nkunda, ocupou grande parte do território da província de Kivu Norte.

Após quase dois meses de combates, o CNDP realizou uma ofensiva no final de outubro na qual ocupou a área de Rutshuru e chegou a 14 quilômetros de Goma, capital de Kivu Norte, onde, no dia 29 do último mês, Nkunda declarou um cessar-fogo, que vem sendo violado desde então.

Os rebeldes tutsis congoleses ocuparam ontem, em Kivu Norte, a cidade de Rwindi, informou a missão da ONU na RDC (Monuc), além de terem encurralado as tropas governamentais às margens do lago Edouard, obrigando-as a fugir, acrescentou o porta-voz do CNDP, Bertrand Bisimwa.

Nkunda insistiu em manter conversas diretas com o governo de Kinshasa, algo a que Kabila se nega apesar dos requerimentos da ONU - cujo representante especial, o ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, teve um encontro com o chefe guerrilheiro no último domingo.

Após lutar como chefe das Forças Armadas com o ex-presidente congolês Laurent Kabila, pai do atual líder, Nkunda foi afastado do comando militar pelo governo de Kinshasa e iniciou a luta guerrilheira em defesa da etnia tutsi no país, segundo ele.

No domingo passado, Nkunda assegurou a Obasanjo que os rebeldes manteriam o cessar-fogo que declararam há três semanas e que permitiriam a abertura de corredores humanitários para atender aos mais 250 mil deslocados pela violência em Kivu Norte desde agosto passado.

Só em Kivu Norte, já havia cerca de um milhão de deslocados antes do reatamento dos combates, há três meses, e, em todo o país, aproximadamente 5,5 milhões de pessoas morreram em conseqüência da violência desde 1998, o que representa mais ou menos 1,5 mil mortes ao dia.

As agências humanitárias das Nações Unidas denunciaram a deterioração da situação no país.

"O que vemos é uma deterioração da situação, não uma melhora", disse em coletiva de imprensa a porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (Ocha), Elisabeth Byrs.

A porta-voz afirmou que os casos de diarréia entre os deslocados estão se estendendo porque as condições de higiene são cada vez mais precárias.

Já a porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Veronique Taveau, pediu acesso a regiões às quais ainda não podem entrar para poder continuar a vacinação contra o sarampo, realizada pela entidade.

"É necessário que o acesso às áreas em que não podemos entrar seja concedido", exigiu Taveau.

Até o momento, o Unicef contabilizou 127 casos de cólera e começa a detectar um aumento dos sinais de desnutrição entre as crianças.

Taveau também ressaltou que 150 mil crianças não estão na escola - motivo pelo qual o Unicef começou a distribuição de "pacotes escolares".

Já o Programa Mundial de Alimentos (PAM) explicou que está distribuindo comida a cerca de 100 mil pessoas, com a escolta dos capacetes azuis da ONU, mas que sua principal preocupação é o péssimo estado das estradas, o que dificulta a distribuição.

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