segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Notícias desse último mês

FOME - População pobre da Terra enfrenta grave crise de alimentosTrinta e quatro países necessitam de comida com urgência

Zurique - Neste preciso momento, 34 países do mundo, dos quais 21 na África, 11 na Ásia, um na Europa (Moldávia) e um na América Latina (Bolívia), têm a urgente necessidade de ajuda do exterior. Não para apoiar suas moedas, mas para evitar que suas populações morram de fome.

De acordo com dados divulgados nos últimos dias pela Organização das Nações Unidas (ONU), o aumento de preço dos grãos e do petróleo, apesar de sua recente e provavelmente provisória queda, é muito mais elevado que em 2007, e ainda traz, por analogia, resultados extremamente negativos a países assolados por grandes catástrofes naturais, guerras civis e que enfrentem condições de insegurança, o que provoca maciças migrações e imigrações de suas populações.

Os países pobres, que sobrevivem principalmente dos recursos que a exportação de minérios ou de matérias-primas agrícolas lhes rende, encontram dificuldades ainda maiores para financiarem a importação de alimentos nos períodos de desaceleração do crescimento da economia mundial, como o atual.

Assim, não é nada curioso que o tsunami de levantes violentos de populações famélicas assole o continente africano, do Egito até a Costa do Marfim, do Senegal a Burkina Fasso.

Se no mundo desenvolvido a alimentação absorve de 10% a 20% da renda familiar, nos países pobres, como os africanos, o percentual pode atingir até 90%. Os países africanos, em particular, dependem de suas transações comerciais com a União Européia, atualmente com produção industrial e gastos de consumo preocupantemente restringidos.

Os países da África são obrigados a derrubarem os preços de seus produtos e o veloz ritmo de crescimento que vários registravam já há cinco ou seis anos, entre 6% e 7%, é interrompido. E as previsões são de que não superará os 4% em 2009 caso enfrentem uma onda de estagflação.

Como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) já havia anunciado, neste momento 923 milhões de seres humanos passam fome no planeta, 75 milhões a mais que no ano passado, isto por causa dos preços de produtos agrícolas e hidrocarbonetos, excessivamente caros.

Em agosto do ano passado, os preços internacionais dos produtos agrícolas subiram tanto que se tornaram a aplicação mais lucrativa e segura tanto para os investidores quanto para os especuladores.

No mês passado, os preços começaram a recuar do patamar recorde da última primavera, e o fato foi atribuído tanto às boas previsões sobre as novas safras quanto ao recuo do preço do petróleo.

A FAO previu recordes para a colheita de 2008-2009, com aumento de 2,8% na produção mundial, principalmente devido à expansão da cultura de trigo.

Laura Britt

Sucursal da União Européia.

Grãos: a jogatina dos preços

Zurique - Em setembro, o preço internacional do trigo recuou 7% em comparação com o mesmo mês de 2007, enquanto o do milho, apesar da considerável "correção" registrada, permaneceu 44% acima do valor de setembro do ano passado.

Em junho, FAO e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) haviam previsto que a curva de preço dos produtos agrícolas, embora já tenha passado do ponto mais alto, continuará se movendo em patamares elevados por pelo menos mais uma década.

Mas com a estenose que hoje caracteriza o mercado de crédito, haverá sérias dificuldades para financiar a compra de sementes e fertilizantes. Conforme destacam os próprios agricultores, as áreas de cultivo serão reduzidas e os preços começarão novamente uma evolução ascendente.
Hervet Guymard, economista do Instituto Nacional de Pesquisas Agrícolas da França, diz que "por melhor que venha a ser a colheita, estaremos expostos à ameaça de sucessivas crises de alimentos".

Neste momento, a crise de alimentos equivale a uma bomba-relógio sócio-política nos países do Terceiro Mundo (Eritréia, Somália, Sudão, Nigéria, Comoros, Botswana, Libéria, Burundi, Serra Leoa, Zimbabwe, Etiópia, Zâmbia, República Centro-Africana, Moçambique, Tanzânia, Guiné-Bissau, Madagascar, Malawi, Ruanda, Quênia, Tajiquistão, Camboja, Coréia do Norte, Haiti, Congo, Afeganistão, Iraque, Nepal, Bangladesh, Sri Lanka, Birmânia e Filipinas), onde sobrevivem 89% dos famélicos deste nosso mundo.


SUDESTE EUROPEU

Tormenta da crise financeira assola os Bálcãs

Refluxo dos capitais estrangeiros derruba moedas e agrava dívidas

Belgrado - Nuvens pesadas da crise financeira se formam sobre os países balcânicos, onde, ao que tudo indica, dificilmente será evitada a conhecida "mão de ajuda" do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Até recentemente, as conseqüências da crise na região estavam relativamente limitadas.
Contudo, a fuga de capitais estrangeiros dos mercados emergentes de alto risco, rumo às economias maduras, atingiu as moedas dos Bálcãs, agravou suas dívidas e afundou suas bolsas de valores em níveis prolongadamente reduzidos. A maioria dos governos teme que as conseqüências não tardem a atingir suas economias.

A Sérvia já recorreu ao FMI pedindo socorro. Oferecendo terra e água - que na Sérvia significa tudo -, o primeiro-ministro Mirko Cvetkovic declarou que "o FMI desempenhará um papel decisivo no planejamento do orçamento sérvio para 2009 - e destacou que - é importante não só reduzir os gastos públicos como também tranqüilizar os investidores estrangeiros".

O governo já formulou e anunciou medidas para a melhoria da confiança. Entre estas, o aumento do limite mínimo de garantia dos depósitos bancários, de 3.000 euros para 50.000 euros, a abolição da tributação sobre o desempenho do capital nos depósitos privados de poupança e a criação de um fundo especial para intervenções urgentes no setor bancário "caso seja necessário".

A Sérvia, que em virtude de freqüentes mudanças de governo não conseguiu se adequar às políticas econômicas preconizadas pelo FMI e entrar em acordo com esta instituição, registra déficit de 18,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em sua balança de contas correntes, e a dívida externa do país equivale a 60% do PIB.

A Croácia, que busca desesperadamente ingressar na União Européia (UE) até 2011, registra um déficit de 10% do PIB em sua balança de contas correntes, enquanto sua dívida externa atinge 90% do PIB. Tais números a tornam uma candidata muito provável a ajuda do FMI, porque o país necessita de 800 milhões de euros nos próximos cinco meses para atender ao serviço de seu endividamento externo.

A economia croata deve crescer abaixo de 4% neste ano - em 2007 subiu 5,6% -e o Banco Mundial (Bird) já advertiu o governo do presidente croata Ivo Sanader a reduzir seus gastos, que crescem incessantemente nos últimos sete anos.

Economistas avaliam que a Croácia, que dispõe de reservas cambiais elevadas em moeda forte, não será um dos primeiros países balcânicos a recorrer ao FMI.

A Turquia também está "conversando" com o FMI. Este país vizinho (não é um dos Bálcãs) já recebeu um pacote trienal de ajuda no valor de US$ 10 bilhões, que expira em maio do ano que vem.

O governo Erdogan está sendo pressionado pelas empresas turcas a buscar um novo empréstimo do FMI, porque a economia do país desacelera rapidamente seu ritmo de crescimento, enquanto sua moeda - a lira - já perdeu, apenas neste mês, 1/3 de seu valor contra o dólar.

Ao mesmo tempo, a capitalização da Bolsa de Valores de Istambul recuou à metade do que valia no início deste ano, e a fuga em massa de capitais, na busca por um refúgio seguro, continua.

Particularmente frágil, consideram alguns economistas e agências internacionais de avaliação de risco, é a situação da economia da Bulgária. A Standard & Poor"s reduziu a capacidade de endividamento do país na quinta-feira passada, e a razão é uma dependência excessiva do país ao endividamento externo, necessário para atender seu gigantesco déficit na balança de contas correntes e financiar sua dívida externa.

Embora advertida pelo FMI, a Romênia declarou que não precisa de ajuda, apesar do tombo de 74% em sua Bolsa de Valores desde o início deste ano e a desvalorização de 12% em sua moeda - o lev - nos últimos 12 meses.

O FMI criticou o governo romeno pesadamente, por ter aumentado os salários dos funcionários públicos na semana passada.

O primeiro-ministro romeno, Calin Tariceanu, prometeu não aumentar mais os salários dos funcionários públicos, os gastos públicos e os déficits em 2009. A Romênia realizará eleições no final deste mês e, como é natural, nenhum partido político se mostra disposto a acatar as ordens dos fariseus do Conselho Diretor do FMI.

Petros Panayotídis

Sucursal dos Bálcãs.

ORIENTE MÉDIO

Aberto o maior bazar do mundo

Processo de paz entre Israel e palestinos volta à mesa

Damasco - O Oriente Médio parece uma grande mesa de negociações colocada sobre a areia movediça da incerteza. Os grandes players já estão tomando seus lugares para o day after das eleições presidenciais norte-americanas, além das importantes disputas eleitorais que se realizarão no início do ano que vem em Israel e no Iraque.

Em Tel Aviv, a recém eleita líder do partido de centro Kadima, Tzipi Livni, fracassou em sua tentativa de formar um governo de coalizão e se prepara para uma queda-de-braço com o ex-primeiro-ministro de extrema-direita Binyamin Netanyahu, tendo como agenda o processo de paz com os palestinos.

Livni está na dianteira das pesquisas, com pequena diferença, e ainda "não abriu o jogo" sobre três problemas consideráveis, sobre os quais negocia secretamente com o líder palestino Ahmed Kureira: Jerusalém Oriental, a retirada israelense da Margem Ocidental do Rio Jordão e o retorno dos refugiados palestinos.

Netanyahu rejeita todos estes temas, e não aceita sequer discutir com os palestinos. Mas Livni, embora pareça estar conversando sobre tudo, não revela nada de específico, e os palestinos foram convidados ao Cairo pelo presidente egípcio, Hosni Mubarak, para dirimirem suas diferenças.

O Hamas não aceita negociar, enquanto a Fatah é pressionada por Washington e Tel Aviv a promover um acordo que nenhum palestino aceita.

Mas até as eleições para a nova Knesset (parlamento israelense), o primeiro-ministro - mesmo de transição - para os três próximos meses será Ehud Olmert, que foi obrigado a renunciar em setembro por causa de inúmeras denúncias de escândalos. Assim, o beco sem saída palestino ficará para Barack Obama.

Um grande bazar se abriu em Bagdá, onde norte-americanos e iraquianos, xiitas, sunitas, curdos, sírios e iranianos discutem todos os esquemas possíveis para o futuro da região.

O principal problema é o acordo de cooperação militar entre Iraque e EUA, que deverá ser votado pelo parlamento iraquiano até o final deste ano, quando expira a vigência da decisão da Organização das Nações Unidas (ONU)sobre a permanência de tropas estrangeiras em território iraquiano.

O projeto de acordo foi rejeitado pelo primeiro-ministro iraquiano Nouri al-Maliki, que exige alterações pressionado por seus aliados filo-iranianos xiitas, que embora concordem com a retirada das forças norte-americanas até o final de 2011, rejeitam a permanência de 50 bases militares norte-americanas no país.

Também é problemático o tema da extraterritorialidade, não só dos militares norte-americanos como também dos membros de empresas privadas de segurança, entre elas a Blackwater.

Se 31 de dezembro passar e não houver acordo, então a ONU deverá emitir nova decisão. A Rússia espera exatamente isto.

Tanto a Síria quanto o Irã temem, e com justa razão, que as 50 bases norte-americanas no Iraque possam ser utilizadas como pontos de partida para ataques em escala maior contra seus territórios, com o objetivo de desestabilizar seus respectivos regimes e destruir o programa nuclear do Irã.

Serbin Argyrovitz

Enviado especial.

ÁFRICA OCIDENTAL

Após fim do colonialismo, países se tornaram "emergentes"

Dicionário geopolítico dissimula mais do que revela

Abuja (Nigéria) - Como ficou claro na imprensa internacional, na semana passada, ainda não foi inventado algum sinônimo de melhor sonoridade para a expressão "escravo africano".

Então, foi com estas duas palavras mesmo que a notícia sobre a decisão do Tribunal da
Comunidade Econômica da África Ocidental (Ecowas) de dar ganho de causa para a ex-escrava Haditzatu Máni, de 24 anos, teve que ser transmitida.

Os juízes do tribunal julgaram o governo da Nigéria culpado por não ter adotado a legislação em vigor, que combate a escravidão. Anotem: a prática de escravidão foi abolida na Nigéria após sua independência da França, em 1960, mas foi proibida apenas 1999, e sujeita às penalidades previstas por lei em 2003!

Infelizmente, a decisão a favor de Máni, cuja causa finalmente teve final feliz graças à movimentação da organização Anti-Slavery Internacional, é apenas uma exceção que confirma a regra em vigor na África Ocidental.

Apenas aqui na Nigéria, calcula-se que existam pelos menos 43.000 escravos, homens e mulheres, ao mesmo tempo em que 2/3 da população do país vivem abaixo da linha de pobreza.
Já a expectativa de vida não ultrapassa os 45 anos.

Conforme denúncias de várias organizações humanitárias, a maioria dos casos de escravidão se refere a pessoas que já nasceram sob este regime, e na maioria das vezes sequer sabe que isso não é "fisiológico".

No caso específico, Máni foi vendida ao seu "dono" aos 12 anos, para ser explorada sexualmente.
E se perdesse a causa na Justiça, seus filhos - frutos de estupros - continuariam sendo considerados "propriedade privada".

Aqui na África Ocidental estão os cinco países mais pobres do planeta, e os corruptos governos locais - ditaduras disfarçadas - garantem às multinacionais do Ocidente os direitos de exploração das riquezas de seus subsolos, e não apenas.

Neste contexto, de acordo com recente pesquisa da organização Human Rights Watch sobre tráfico e comércio de menores, a prática não conhece fronteiras. O eixo da rede de traficantes e exploradores se estende do Benin e Togo até o Gabão e a África Central, e de Burkina Fasso e Mali até a Costa do Marfim.

Assim, com justa razão, a decisão do Tribunal de Ecowas foi considerada um marco, porque é automaticamente considerada jurisprudência que passou a vigorar nos 15 países-membros da Comunidade Econômica dos Países da África Ocidental (Ecowas).

O fato adquire importância ainda maior se alguém pensar que as organizações humanitárias que atuam no combate à escravidão em toda a África Ocidental são freqüentemente perseguidas pelas elites escravocratas, na maioria das vezes autoridades governamentais, que obviamente desejam manter tudo aquilo que herdaram ou conquistaram!

Na Mauritânia, por exemplo, os responsáveis pela organização humanitária SOS Esclaves foram detidos e encarcerados no passado porque as autoridades oficiais do país consideram a questão um tabu.

Aliás, se algum ex-escravo conseguir fugir, não é defendido por nenhuma lei do país, e continuará enfrentando o preconceito social. Tudo isso, não esqueçam, está acontecendo em pleno ano de 2008.

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