quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Economistas vão à ONU e pedem reestruturação do sistema financeiro global

Joaquim Utset.

Nações Unidas, 30 out (EFE).- Um grupo de renomados economistas reivindicou hoje na ONU uma reestruturação dos mecanismos financeiros globais surgidos há meio século em Bretton Woods.

Os analistas reunidos pelo presidente da Assembléia Geral da ONU, o nicaragüense Miguel
D'Escoto, exigiram uma maior participação dos países menos desenvolvidos na construção de uma resposta à crise para garantir que as soluções à atual conjuntura não sejam pagas pelos mais pobres.

D'Escoto foi aplaudido pelas delegações diplomáticas presentes quando reivindicou que o debate sobre a crise deve acontecer em conjunto com o G8 e em fóruns nos quais, como nas Nações Unidas, "cada país conta".

"A comunidade internacional tem a responsabilidade e a oportunidade de identificar medidas à longo prazo que vão além de proteger os bancos, estabilizar os mercados de crédito e reconfortar os grandes investidores", disse o ex-chanceler.

"Há muita coisa em jogo para que soluções e regras precipitadas sejam adotadas a portas fechadas", completou.

Esteve presentes à Assembléia Geral um grupo de especialistas liderado pelo Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz. Também compareceram o ministro de Coordenação de Política Econômica, Pedro Páez, o economista Prabhat Patnaik, da Universidade Jawaharlal Nehru, da Índia, e a economista japonesa Sakiko Fukuda-Parr.

Além disso, o evento contou com o professor de desenvolvimento internacional da Universidade de Harvard, Calestous Juma, e o sociólogo belga François Houtart.

"Lamentavelmente a inércia dos poderes estabelecidos e o pensamento dominante nos levam a um desequilíbrio catastrófico", disse Páez à Agência Efe.

Ele também se mostrou pouco convencido de que a cúpula do G20 convocada pelos Estados Unidos para 15 de novembro, em Washington, dê uma verdadeira resposta à crise global.
Páez defendeu ainda o fomento de organismos regionais de coordenação monetária e macroeconômica, como o Banco do Sul, que sirvam para responder à crise com medidas próprias, evite uma desvalorização generalizada das moedas e sirva de contraponto para as instituições multilaterais "do norte".

Do mesmo modo, Stiglitz explicou durante a reunião que o mundo se encontra "em outro momento Bretton Woods", referindo-se à conferência da ONU realizada após a Segunda Guerra Mundial na qual se desenhou uma nova ordem financeira e foram criadas instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM).

"Estamos perante uma crise global e precisamos de uma resposta global", disse.

"Nós que estamos no norte não podemos tomar ações às custas dos que vivem nos países em desenvolvimento", acrescentou.

O professor da Universidade de Colúmbia considerou que os EUA poderiam ter evitado esta crise se seus reguladores estivessem dispostos a seguir as normas existentes em outros países.
Stiglitz também fez parte do grupo de especialistas que se reuniu na última semana com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, para discutir a situação econômica global.

A ONU expressou repetidamente nas últimas semanas o temor de que os países mais pobres e dependentes da ajuda internacional para seu desenvolvimento sejam as vítimas colaterais das graves dificuldades da economia global. EFE

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